São Paulo, (AE) - Flávio Higuti, 30 anos, troca de celular pelo menos uma vez por ano. Melissa Yafuso, 32 anos, só troca quando o aparelho quebra, mesmo que isso leve anos para acontecer. Os dois são namorados. Só que com perfis tecnológicos bem opostos. Ele fica todo empolgado com os "lançamentos revolucionários" de cada semana e não perde a oportunidade de ter um equipamento novo, ela não se importa em só usar funções básicas e não vê nada demais em carregar um aparelho que não esteja na crista da onda. Minha atitude é identica a da Melissa só troco quando quebra. Ainda tenho um W200i - de 2005 eu acho - funciona bem que é uma beleza.
Ambos ilustram uma mudança no consumo. E na indústria. Os eletrônicos foram adotados por todas as classes, não são mais "coisa de rico". E, se há algum tempo, havia poucos produtos e eles eram caros, agora há modelos em todas as faixas de preço. Com isso, o perfil de quem compra mudou. Há quem queira sempre o mais moderno - são os heavy users, usuários avançados. Mas há quem ache que as funções dos velhos já são suficientes e por isso não trocam de equipamentos a toda hora - estes são os desencanados digitais.
E em cada um desses perfis ainda há subdivisões. "Entre compradores compulsivos, há os que fazem isso pois realmente usam todas as funções e outros que compram por status", explica a pesquisadora Luciana Ruffo, do Núcleo de Pesquisa de Psicologia em Informática (NPPI) da PUC-SP. "E entre quem não compra, há os que têm aversão e outros que acham muito caro pagar por funções que não usarão."
É este último o caso de Melissa. Ela está com o mesmo celular, bem basicão, há dois anos. E só vai trocá-lo porque ele está com defeito. O iPod dela tem 4 GB e ela não quer o modelo com capacidade de 120 GB. O notebook é só para navegar na web. "Não preciso ter o mais moderno. O que importa é servir para meu uso", diz ela, que não cede aos pedidos do namorado para comprar o topo de linha. "Meu próximo celular terá de durar quatro anos."
Flávio, por outro lado, é um heavy user. Assim que sabe de uma novidade, pesquisa, vai a lojas para por as mãos no aparelho. E se gostar, compra, mesmo que seu notebook, por exemplo, tenha só meses de uso. "Não é só ter o mais moderno. A questão é que, quando equipamentos novos são lançados, quero saber as funções. Se for melhor que o meu, compro", diz ele, que já acha TVs LCD obsoletas e está de olho na moderníssima TV LED. "Gosto de estar atualizado. Quando vou à casa da minha namorada, levo o meu próprio notebook. O dela é muito lento."
Nem tão distante - Embora pareçam vindos de planetas distintos, pessoas como Flávio e Melissa, com perfis tecnológicos bem diferentes, se encontram em um momento da cadeia de consumo: a compra e a venda de usados.
O designer Rodrigo Diniz Rosa, 26 anos, troca de notebook e smartphone a cada seis meses. Para sustentar seu "vício", além de pedir aumento nos limites de cheque especial e de cartão de crédito, ele vende pela internet e a amigos seus eletrônicos antigos. "Só compro equipamento novo quando consigo vender o antigo", garante.
E são pessoas como o técnico Marcos Eduardo Silva, de 30 anos, que compram. Ele não liga em ter aparelhos mais velhos e diz que é dessa forma que consegue eletrônicos com funções bacanas por preços mais baixos. Ele já comprou notebook, celular e até home theater de segunda mão. "Não preciso estar com tudo do mais moderno. E, diferentemente de muita gente que compra tudo novo, uso todas as funções. E pago até 70% menos."
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