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segunda-feira, 6 de julho de 2009

O mito das baterias ou Benchmarking total.

Você já parou para pensar porque a bateria de seu notebook acaba antes do tempo indicado pelo fabricante? David Pogue desvenda este mistério.

David Pogue do New York Times

Esta é uma história sobre verdade, ganância e o "jeito americano". Ah, e também sobre testes de duração de bateria em notebooks.
Há duas coisas a saber sobre esta útima questão: a primeira é que os resultados geralmente tem pouca relação com a realidade. Não sei quanto a você, mas a bateria de "cinco horas" no meu notebook geralmente morre em cerca de três horas.
A segunda é que os anúncios de notebooks abusam da ferramenta essencial de qualquer vendedor: o "até". Como em "até cinco horas". O "até" é uma das maiores desculpas esfarrapadas em qualquer idioma. Sabe de uma coisa? Eu tenho um notebook que funciona por "até" 1.000 horas com uma carga de bateria! Isso porque o "até" significa, na prática, "qualquer coisa abaixo deste número".
Mas e daí? Porque implicar com os fabricantes de notebooks? Todos os setores da indústria fazem isso certo? Errado!
Em 2003, a indústria de câmeras fotográficas digitais sofria do mesmo problema. Todas as empresas anunciavam a autonomia de bateria de suas câmeras em termos exagerados. Cada uma tinha seu próprio protocolo de testes, e nenhum deles representava a vida real. Logo, os consumidores notaram que os números divulgados eram praticamente inúteis.

No final das contas, a CIPA (Camera and Imaging Products Association), um grupo que reúne os principais membros da indústria de câmeras, entrou em ação e desenvolveu um teste de duração de bateria padronizado. Tira-se uma foto a cada 30 segundos - alternando uma com flash, uma sem flash. Antes de cada foto, coloca-se o zoom no máximo, depois no mínimo. A tela fica ligada o tempo todo. Depois de 10 fotos, a câmera é desligada por algum tempo. E por aí vai.
Em outras palavras, a câmera é testada da mesma forma como as pessoas a usariam no mundo real, talvez de forma um pouco mais conservadora. Hoje em dia, todas as câmeras são testadas, e anunciadas, desta forma. E os números da CIPA agora correspondem à realidade.
Mas os notebooks são mais complicados, não? Há muitos outros fatores que determinam a autonomia da bateria: o que você está fazendo, qual o tamanho da tela, quais interfaces sem fio estão ligadas, e por aí vai. Ainda assim, outras indústrias enfrentam problemas similares. Celulares, por exemplo: a bateria acaba muito mais rápido quando você está fazendo chamadas do que quando ele está no seu bolso. Carros: a autonomia é maior na estrada do que na cidade. Até mesmo iPods: eles funcionam por mais tempo quando estão tocando música do que com vídeo.
Então os fabricantes fazem a única coisa lógica - informam os números no pior e no melhor caso. Quando você compra um celular, vê "4 horas de conversação / 300 horas em espera". Quando compra um carro, vê "11 Km/litro na cidade, 13 Km/litro na estrada". E quando escolhe um iPod, vê "24 horas de música/6 horas de vídeo".E todo mundo fica feliz.
Mas com notebooks, o que nós vemos? "Até cinco horas".
Isso é importante, porque a autonomia de bateria se tornou um item importante a considerar na hora da compra. As pessoas estão finalmente esquecendo o "mito dos megahertz" (aleluia!), e considerando a duração da bateria como um fator crucial.
Porque a indústria dos computadores não inventa um teste padrão de autonomia de bateria? Na verdade, eles já inventaram. Estes números de "até" tantas horas são os resultados de um conjunto de testes chamado MobileMark 2007. Mas há alguns problemas com ele. O primeiro é a identidade de seu inventor, a Bapco (Business Application Performance Corp.), um grupo de empresas liderado pela Intel e composto principalmente por fabricantes de chips e máquinas, inclusive de notebooks.
Vejamos: um teste desenvolvido pelas mesmas empresas que irão lucrar se a autonomia de bateria parecer boa. Isso não é a mesma coisa que colocar as raposas como fiscais dos galinheiros? Outro problema: ao contrário dos testes de câmeras da CIPA, o protocolo de testes do MobileMark não reflete as condições de uso real. Considere, por exemplo, a tela. Ela é o componente que consome mais energia em um notebook, portanto definir corretamente seu brilho durante o teste é extremamente importante.
Pois bem, o MobileMark especifica que a tela deve ser ajustada para um brilho de 60 nits (uma medida de luminosidade). Sem querer ser chato, mas no brilho máximo a tela de um notebook moderno chega a 250 ou 300 nits. Trocando em miúdos, o MobileMark pede que a tela seja ajustada para uma fração de seu brilho total - algo que poucas pessoas fazem no mundo real. A AMD, uma fabricante de processadores, diz que 60 nits é 20% do brilho máximo na maioria dos notebooks. A Intel diz que equivale a 50%. De qualquer forma, ainda é muito pouco.
Além disso, o MobileMark não especifica se recursos que consomem muita bateria, como Wi-Fi e Bluetooth, devem estar ligados ou não durante o teste. A decisão fica por conta dos fabricantes quando testam suas próprias máquinas. Hmm... adivinhe o que eles fazem?
Por fim, há os testes propriamente ditos, que na verdade são três. O primeiro é o teste de DVD, onde um filme padrão toca em repetição até a bateria acabar. É um cenário de "pior caso", com a menor autonomia.
No teste de produtividade, um software automatizado faz tarefas típicas do dia-a-dia como calcular planilhas do Excel, manipular imagens no Photoshop e mandar e-mail. Este deveria ser o teste mais realista - com a exceção de que ele não inclui nenhum uso de navegadores web, media players, streaming de vídeo ou jogos. Ops!
No teste final, o de leitura, um script automatizado simula a leitura de um documento, pausando por dois minutos em cada página. Este é claramente um cenário de "melhor caso". Na verdade, não é muito diferente de deixar o notebook ligado sozinho.
E qual destes testes é reportado nos anúncios? A Intel diz que é o teste de produtividade. Mas porque não nos mostram todos os três resultados?
Tudo isto nos leva à AMD, que passou várias semanas blogando sobre o assunto e o trouxe à atenção de repórteres de tecnologia como eu. A empresa acredita que a indústria deveria adotar um teste muito mais realista para a autonomia de bateria dos notebooks - e representar os resultados de forma parecida com o que é feito com os celulares, iPods e carros. Ela propõe um novo logotipo que mostre claramente os números no melhor e pior caso. A caixa de seu próximo notebook poderá dizer "2:30 horas em uso / 4:00 horas em repouso".
A idéia parece absurdamente óbvia para qualquer um que a ouve. E ainda assim, de forma previsível, a AMD relata que tem encontrado "resistência considerável" dos outros grandes fabricantes. A Intel, arqui-rival da AMD, parece especialmente incomodada com todo este barulho. Um porta-voz, Bill Kircos, diz que o MobileMark é um teste "bem pensado, bem debatido e bastante sólido". Além disso, se um consumidor não gostar dele, "há uma miríade de testes independentes, reviews, artigos em revistas e informações fornecidas pelas próprias empresas que as pessoas podem usar para descobrir mais sobre a autonomia de bateria, além do já citado MobileMark".
Espera aí - os consumidores devem compensar as falhas do MobileMark gastando horas procurando por testes realistas de bateria na internet? Não seria mais prático, para todos, ter um único teste confiável? É assim que as indústrias de telefonia celular, automotiva e de eletrônicos de consumo fazem. Porque os fabricantes de computadores não podem fazer igual?
Essa é fácil: porque há muito dinheiro em jogo. As pessoas pagam mais quando acham que estão comprando uma máquina com autonomia de bateria maior. Ao iludir o público com números inúteis, as lojas e fabricantes ganham mais dinheiro. Não me espanta que os mais cínicos chamem a prática de "benchmarketing".
O porta-voz da Intel me disse que a AMD ainda não propõs uma nova metodologia de testes de bateria para a Bapco, da qual a AMD também é membro. A AMD responde que isso não é necessariamente verdade: "Todas as discussões da Bapco são confidenciais. Se a Bapco estiver disposta a abrir mão da confidencialidade ou tornar as atas de suas reuniões públicas, a AMD ficará feliz em discutir o que foi ou não foi apresentado à Bapco".
Está óbvio o motivo pelo qual a Intel quer manter o "status quo". Mas qual seria o motivo por trás da decisão da AMD de sacudir este ninho de vespas? De acordo com testes feitos pela Laptop Magazine e outras publicações, notebooks equipados com processadores AMD tem, no geral, autonomia de bateria menor que modelos com processadores Intel. Mas em testes mais realistas, esta diferença se reduz consideravelmente.
Portanto, todo mundo tem um interesse neste jogo. Mas como consumidor, o seu deveria ser o apoio à campanha da AMD. É lógica, é justa - e já não era sem tempo.

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